Camila Costal
quarta-feira, 25.06.2014

Por Patrícia Oliveira

Primeira entrevistada do mês a lindíssima vegana Camila Costal, 24 anos, especialização como educadora ambiental, estudante de ciências biológicas e uma das responsáveis pelo Projeto ArboreSer.
Pense Vegano agradece carinhosa por conceder essa entrevista tão esclarecedora onde com certeza levará muitas pessoas a reflexão sobre a importância do veganismo.

 

Em que momento tornou-se vegana e por quê?

 

Vim de uma família onde a carne sempre estava presente nas refeições. Queijo e ovos também eram consumidos diariamente. Esses hábitos permaneceram em minha vida até meus 12 anos, quando parei de consumir carne. Me lembro exatamente do dia em que tudo fez sentido para mim, do momento que veio como uma luz e me mostrou o que realmente era a carne, a associação daquelas preparações feitas por meus pais com a morte dos animais. Comi o meu último pedaço de carne em um almoço de família, e disse a todos na mesa que nunca mais comeria. Isso aconteceu há 13 anos.

Infelizmente, eu não tinha acesso a tanta informação nessa época. E eu demorei a enxergar o mal que os laticínios ainda causavam aos animais, então continuei consumindo. A primeira vez que exclui todos derivados de origem animal da minha vida foi aos 15 anos, porém confesso que por muitas vezes consumi queijos e ovos, por extrema fraqueza, admito.

A minha decisão em ser vegana veio forte quando fiquei grávida e quis criar meu filho sem nenhum vício do paladar desde a gestação. Indo contra a opinião do meu obstetra e de quase todos familiares, mantive a dieta vegana. Ouvia todo tempo que meu filho não cresceria, que seria fraco, que eu corria riscos, enfim…

Hoje meu filho, Santiago, está com 2 anos e 9 meses e é uma criança extremamente forte, grande, inteligente, que nunca fica doente!! Nunca mais ouvi da família nem dos médicos que nos acompanham nada contra o veganismo!

 

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Camila Costal

 

 

 

Quais os benefícios a dieta vegana trouxe para sua vida?

 

Os benefícios são infinitos!! Destaco a tranquilidade que sinto toda noite por não contribuir com a morte e sofrimento dos animais, por levar essa informação adiante, da minha forma, despertando outras pessoas para o veganismo.

Vejo também, pelo meu filho como o sistema imunológico fica mais forte. É tão difícil ficarmos doentes.

A preocupação com a alimentação, para mim, faz com que comemos melhor. As combinações certas são muito importantes em uma dieta vegana. Fora que a criatividade rola solta na hora das preparações.

 

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Santiago, filho de Camila

 

 

 

Sua família também é vegana?

 

Em casa sim, meu marido e meu filho! Minha mãe ainda consome poucos laticínios, mas com o neto vegano tenho certeza que esses hábitos vão durar pouco tempo. Na família do meu marido todos comem carne. Mas quando estamos presentes nos almoços de domingo os vegetais preenchem a mesa, rs.

 

 

 

Ser vegana despertou curiosidade sobre sua alimentação e saúde entre seus amigos?

 

Ah, com certeza. E qual vegano nunca passou por isso? rs. A curiosidade sobre o que comemos e onde encontramos proteínas sempre surgem. Mas sempre fiz questão de cozinhar e convidar os amigos para jantar. Quando a nutrição, sempre foi algo que estudei e explico quantas vezes necessário que a dieta vegana é saudável e não me faltará nada.

O mais legal disso é que influenciamos os amigos, mesmo que eles não se tornem veganos, o olhar deles sobre a indústria da carne fica diferente. A maioria dos nossos amigos comem carne, e sempre conversamos sobre isso. Mas respeito e entendo que cada um tem o seu tempo e forma de se sensibilizar.

 

 

 

Existe uma resistência das pessoas em entenderem sobre o veganismo, na sua opinião por que isso acontece?

 

Com certeza. Nos últimos tempos me deparei com duas situações que me surpreenderam. Na primeira, quando disse que eu era vegana as pessoas acharam que ser vegano era não se depilar, e na segunda me perguntaram porque eu não usava absorventes, rsrs. Na hora dei bastante risada, mas fiquei refletindo porque essas pessoas tinham essa visão do veganismo.

Acredito que o veganismo é muito divulgado entre os veganos. Já fui em eventos para discutir e informar sobre o veganismo onde só tinham veganos. Conheço pessoas que só tem amigos veganos e se recusam a ter amizades com quem come carne. Eu penso bem diferente, nós temos que estar nos lugares e com as pessoas que nunca pararam para pensar no que comem. Sermos um exemplo para os amigos, para todo círculo social que o veganismo é possível.

 

 

 

Como educar nossos filhos em um mundo tão consumidor da carne e do leite?

 

O que eu e o Daniel fazemos com nosso filho é conversar bastante. Contamos a verdade. Dizemos que tal coisa tem leite, tem carne que faz a vaquinha sofrer, que os animais são nossos amigos, que não podemos comer eles. Bom, ele simplesmente entende, rs! No início achamos que ia ser difícil, mas ele recebeu tudo o que falamos com muita compreensão.

Sempre carregamos algo especial para ele comer. Dessa forma, quando ele vê algum coleguinha comendo algo que ele não come, nós lhe oferecemos algo vegano que ele gosta bastante. E isso o deixa feliz.

A parte difícil é explicar para ele porque a prima e os avós comem carne, e as vezes ele nos pergunta. Não queremos que ele tenha nenhum sentimento ruim pelas pessoas que ele vê comendo, tentamos trabalhar isso com muito dialogo e amor.

 

 

 

Todo vegano de alguma maneira torna-se um ativista?

 

Acredito que sim. O veganismo acaba fazendo parte da nossa identidade, e é impossível você conviver em um círculo social sem que as pessoas descubram que você é vegano. E nesse momento surgem as dúvidas e todos já estão querendo saber o porque de você não comer tudo o que eles estão comendo, rs. Particularmente eu não costumo falar sobre o veganismo, ao menos que o assunto seja proposto pelos outros, sempre fico mais na minha, mas conforme as relações vão ficando mais próximas o assunto é inevitável e nós acabamos influenciando de alguma forma.

 

 

 

Como surgiu o Projeto ArboreSer?

 

O ArboreSer surgiu para que déssemos continuidade a um trabalho que já desenvolvíamos. Eramos oficineiros do projeto Escola Estufa Lucy Montoro, que foi por água a baixo com a mudança de gestão da prefeitura. Mas estávamos muito conectados com a produção de alimentos na cidade, com a permacultura e com uma imensa vontade de continuarmos a falar e ensinar as pessoas o quanto a conexão era simples e necessaria para este momento.

 

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Equipe ArboreSer

Isaque Gomes, Julhiana Costal, Camila Costal e Daniel Pires

 

 

 

O ArboreSer é um espaço encantador na zona norte de São Paulo, que trabalhos desenvolvem?

 

A proposta é nos reconectar com a natureza e com nós mesmos, é isso que tentamos passar nas nossas atividades.

Buscamos uma produção de alimentos que seja sem defensivos químicos, e sem adubação com insumos de origem animal, pois a agricultura orgânica está longe de ser vegana, uma vez que se utiliza para a adubação os estercos e farinha de ossos.

Com nossa experiência em cultivo de hortaliças, percebemos que não era necessários esses adubos. Desenvolvemos um composto orgânico bem balanceado e riquíssimo em nutrientes, e é com ele que adubamos toda horta e fornecemos no espaço. Estamos nessa busca de uma agricultura orgânica e vegana. Vejo que muitas pessoas ainda não sabem que as hortaliças recebem adubos de origem animal, e acho muito necessário buscarmos uma mudança nessa agricultura.

Desenvolvemos cursos e oficinas de agricultura urbana e vegana, compostagem, telhado verde, jardins comestíveis, alimentação viva, floríferas entre outras, tudo que envolva o bem estar de todos os seres.

 

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Horta ArboreSer

 

 

 

Qual é a melhor forma de divulgar o veganismo, na sua opinião?

 

Acredito que para possamos mostrar que o veganismo é possível precisamos estar saudáveis. A nossa saúde é maior prova de que o veganismo é o caminho para a paz com nós e todos os seres. Vejo pessoas que estão muito preocupadas com a causa e não dão atenção a sua saúde e acho que não é esse o caminho, precisamos ser um exemplo.

Fazermos conexão com a maior quantidade de pessoas com pensamentos divergentes aos nossos, não restringir nosso círculo de amigos em apenas pessoas com a mesma ideologia, pois assim nosso conhecimento ficará estagnado.

E sempre falar com paz e compreensão. Criticar e ser violento com uma pessoa que come carne, não é mesmo o caminho. Precisamos estar abertos, e cheios de amor, respeitar que cada um tem seu tempo e sua conexão, sua cultura, crença. Só com amor e respeito que possamos chegar no coração das pessoas e tocar elas, despertando a importância do respeito a vida de todos os seres.